sexta-feira, 15 de abril de 2011

Diários da África - De volta pra casa

*Suzi Theodoro

Estou voltando pra casa certa de que cumpri minha tarefa. Tenho a sensação de que poderia ter feito mais. Mas, é possível que este ainda não seja o tempo adequado. As mudanças só ocorrem, quando o ambiente está pronto para elas. Desejo sinceramente que tenha deixado uma semente de esperança, de uma vida melhor para o povo angolano. Como disse meu parceiro de viagem de ontem (aquele senhor, considerado o "pai da geologia", de Angola): A terra é grande, mas o mundo é pequeno. Então é melhor dar tempo ao tempo.

Hoje, mais do que em outros momentos, vi dois mundos na África. Um é aquele que já conhecemos. De miséria, necessidades e, mesmo assim, de esperança e alegria. O outro, um mundo da fantasia. Isto me dá a certeza de que a África ainda precisará de muito tempo para ser soberana.

Se antes era a mão de obra escrava, depois exportadora de recursos naturais, agora é o petroleo. Quando se vê na perspectiva da geopolitica, não é possivel ter esperanças. Falta muito tempo para o povo da África se libertar de fato.

Por algum tempo, a mama África ainda será dilapidada pela cobiça. Apesar disto, ou talvez por isto mesmo, ela seja tão linda. Não sei bem descrever este tipo de beleza. Existe, em cada africano que conheci (não só aqui, mas no Quenia, em Camarões e na África do Sul) há uma postura de altivez e paz interior, que não consigo perceber em nenhum outro povo do mundo.

Pode haver um pouco de romantismo de minha parte, que sempre tende para o lado do mais frágil. Sei lá, é a sensação que tenho. O povo é lindo, como é linda a menina que ilustra esse texto. E como têm esperança de uma vida melhor e mais digna! Suas danças, sorrisos e arte mostram que ainda esperam por um mundo mais justo. Talvez, por isto, suas crianças sejam tão lindas.

Enfim, parto com o coração em paz. Acho que vim trabalhar e tentar deixar um pouco do meu sonho e desejo de ver um mundo melhor e mais fraterno. Mas, também, vim me conhecer um pouco mais, através do olhar dos africanos.
 
*Suzi Huff Theodoro
Geóloga da Petrobras, pesquisadora adjunta sênior da UnB e PhD em gestão ambiental e desenvolvimento sustentável.

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