segunda-feira, 4 de abril de 2011

Margaridas e Ciclames

*Eliane Oliveira di Quarto

Caro Maranhão!

Leio o blog. Te sigo! “Seo” Lúdio se foi. Afloram-me lágrimas. Será culpa dos hormônios endoidecidos com a gravidez e a amamentação? Assim acredito. Leio do seu encontro com o passado depois de uma noite em que muito pensei no meu passado. A penumbra e o silêncio da madrugada, durante a amamentação, propiciam. Será por isto que esta noite sonhei tanto com a Gilmara. Levantava pra alimentar a minha pequena, voltava pra cama e o sonho recomeçava de onde tinha parado.

Sonhei o meu passado. Os tempos em Campo Grande, as pessoas que me apontaram um caminho. Faço tesouro daquele tempo. Sonho o meu futuro. Cheguei aos 42. Já se vão quase 11 anos em Milão, uma mudança de vida drástica guiada pelo amor. Ainda hoje as pessoas admiram-se: "cosa fai una brasiliana qui? Il Brasile è cosi bello!! " Olho para os meus filhos e emerge a certeza de que aqui terminarei os meus dias. Quem me conheceu quando cheguei, e me acompanha ainda hoje, costuma dizer que sou mais italiana do que brasileira. Em quê não sei. Minha mãe não cansa de dizer: "Ah, menina!! Você já virou italiana."

A mudança será cotidiana. Então, quase imperceptível. Para o Andrea sou sempre a "brasileira". Penso em tudo no último minuto. Deixo tudo para amanhã. Confio sempre que de um modo ou de outro se faz quase tudo. Para os brasileiros tornei-me super organizada, hiper pontual, exigente com o tempo dedicado à mesa, quase alemã na educação dos meus filhos. Tamanha diversidade de pensamento aquece meu coração. Quer dizer que nem sou, assim, tão menos brasileira. Nem sou, assim, tão italiana.

Neste percurso o matrimônio e a maternidade. Um novo idioma e uma janela para o mundo. Tudo contribui para uma nova alma. Esforço-me para regar as duas, como quem rega as margaridas no verão e os cíclames no inverno. Não é de todo mundo possuir duas almas. Cuido "só" para que convivam bem. Cuido em não transcurar um privilégio.

Faço tesouro, também, desta conquista. Um tempo que se faz a cada dia, a cada aurora. Um sopro quente se vai. Um sopro quente vem e os sonhos nunca dormem.

Faz-se dia! Conto ao Andrea o sonho que recomeçava sempre do mesmo ponto e ouço: "Che cosa strana! A me non succede mai. Peccato!" Preparo o café da manhã, visto o Lorenzo para a escola, amamento a Sophia.

Que seja abril!

*Eliane Oliveira di Quarto é uma querida amiga, jornalista, brasileira, radicada há muitos anos em Milão, na Itália. Eliane é casada como Andrea,  editor italiano; e mãe de Lorenzo e Sophia (que aparece agarradinha com ela, na foto aí ao lado). Eliane escreve aqui, sempre que quiser e sobre o que quiser.

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