segunda-feira, 2 de maio de 2011

Teoponte - O Luis que foi e o que ficou

Três dias de trabalho com a equipe que vai produzir o filme Teoponte - Voltaremos às Montanhas. Aos poucos, tomo contato com histórias dramáticas de personagens muito próximos da minha geração. O fato da história ter acontecido ao lado do meu país, na Bolívia, e eu nunca ter ouvido falar dela me dá a ideia de quão separados, quão distantes estamos dos nossos vizinhos.

Aí embaixo, conto rapidamente uma história curta. Que me foi relatada por um dos protagonistas - o Luis que ficou. É só uma da centenas de histórias que formam o imenso quebra-cabeças dessa saga revolucionária e trágica.


Dia do embarque. Marca o reinício da guerrilha na selva.

Eram dois. Tornaram-se um. Um único, forjado no que restou da aventura do outro. Resignado a recolher fragmentos da história que lhe permitam responder a uma pergunta irrespondível – por que?

Carlos. O Luis que se foi.
Carlos era um estudante universitário boliviano, no final da década de 60. Um idealista. Um visionário. Para ele, a morte de Che não poderia ser um fim do sonho socialista. Por isso, decidira seguir, prosseguir na luta armada. Junto com um grupo de amigos. Idealistas e visionários, tal qual ele.

Luis (a quem todos chamam de Chino) tinha doze anos e era o irmão mais novo de Carlos. Quando decidiu ingressar na guerrilha, Carlos assumiu o nome do irmão como nome de guerra. Era uma homenagem, uma forma de tê-lo sempre junto, argumentava.

Os dois viraram um naquele instante. Para o bem e para o mal. Naquele exato momento. O Luis que partiu se foi para sempre. Dele restou a imagem difusa em uma foto do último dia. Tirada na hora do embarque, na praça. O Luis que ficou tem na mente a imagem do comboio sumindo na estrada e se perdendo entre as montanhas e as nuvens. Levava o seu Luis e muitos outros. Não imaginava que fosse para sempre.

Luis. O irmão que ficou.
Um dia, veio a notícia: O Luis que partira estava morto. Uma história mal terminava e outra acabara de começar. O Luis que partiu nunca foi em definitivo. Sua imagem e sua memória permanecem vivas no Luis que ficou.

Quarenta anos se passaram. Este insiste em resgatar o passado daquele. Insiste em dar dignidade a seu irmão e seus companheiros de luta. Mesmo sem compreender as razões que o levaram a Teoponte. O Luis que ficou aceita a história. Não aceita a saudade.

Para Chino (Luis Navarro)
Em memória de seu irmão Luis (Carlos Navarro)

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