segunda-feira, 31 de outubro de 2011

O palhaço e o contador de histórias

Selton Mello e Paulo José em cena de "O Palhaço"
Terminei do domingo assistindo o circo imaginário de Selton Mello. O filme “O Palhaço” é de uma delicadeza ímpar. Uma elegia à solidão e à sensibilidade. Selton, bom ator, se mostra também um diretor competente. Direção, cenário, elenco, iluminação e trilha sonora compõem um conjunto harmonioso e eficiente.

Benjamin, personagem de Selton, é o alterego triste do palhaço “Pangaré”. No picadeiro, ele contracena com outro palhaço, “Puro Sangue” – personagem magistral de Paulo José – e distribui alegria ao, cada vez menor, público dos vilarejos por onde o Circo Esperança se instala.

Puro Sangue e Pangaré são pai e filho. O circo que alegra o público é o mesmo que enche de tristeza e dúvida Benjamin, toda vez que a lona cai e o espetáculo se encerra. Na vida real, falta dinheiro e sobra cumplicidade a uma truope mambembe que enfrenta com humor e simplicidade as frustações do cotidiano.

A essência do filme se traduz em uma ideia: A busca da realização interior. Insatisfeito com o que vive, com a falta de condições, com a velhice do pai, com a solidão, Benjamim vive seu conflito Hamletiano pessoal – Ser ou não ser (palhaço)? Eis a questão.

A uma certa altura do filme , um personagem caboclo, vivido por Jackson Antunes, conversa com o pai de Benjamin e dá o trato filosófico-popular ao conflito: “A vida é assim, gato bebe leite, rato come queijo e eu faço o que eu sei fazer.” Bingo!

Em pouco mais de uma hora de filme “O Palhaço” provoca um riso medido. Não o riso escrachado. Aquele riso leve, saboroso, provocado pela sabedoria infantil. Pela ingenuidade que nos tira, como um passe de mágica, do mundo real e nos transporta para a fantasia.

Faço minhas as palavras do filósofo popular: “A vida é assim: Gato bebe leite, rato come queijo e eu, cada vez mais, sou um contador de histórias”.

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