quarta-feira, 21 de março de 2012

A vida como música, sempre

Sérgio, Celito, Humberto, Jerry, Geraldo, em cima.
Embaixo, Alzira e Tetê. Os Espíndola, em família.
Da minha recente passagem por Campo Grande, deduzo que o tempo é matéria incapaz de interferir nas sinceras amizades e na sensação de pertencimento que tenho por aquele lugar. Meu reencontro com a cidade que tanto me deu (dois filhos, muito respeito profissional e uma imensidão de histórias inesquecíveis) foi completo.

Percorri as rotas internas do Parque das Nações Indígenas, como fiz centenas de vezes, durante os 23 anos em que vivi por lá. Uma sensação indescritível de posse daquela paisagem, daquele cheiro de mato, daquele verdor, do lago e do horizonte.

Lembranças dos tempos de um jovem jornalista traduzidas na percepção de um homem maduro. Meus limites são outros, minhas ambições estão mais centradas. Mas o meu prazer de viver acentuou-se.

Conversando com Gisele Brum, com as Maristelas Yule e Brunetto, com Ecilda Stefanello e Margarida Marques, passei o tempo em revista. Nos lembramos de outros tempos, de outras gentes, de velhas canções. Falamos da vida como quem fala de música. Com mais admiração do que com lamentos. Comemoramos a permanência do vigor em nossos corações.

No caminho de volta para o hotel, no carro da Ecilda, o cd tocava uma música de um jovem cantor chamado Dani Black. Descubro que é mais um da estirpe dos Espíndola. Filho de Tetê. A música tem o DNA da família. A poesia do Geraldo, a afinação da Tetê, a leveza de Alzira, o vozeirão do Sérgio, a irreverência de Jerry, os traços do Humberto e a sensibilidade de Celito.
Dos tempos da TV Morena, ao lado de Ecilda Stefanelo,
à esquerda; e Carmen Cestari, à direita.

Impossível não lembrar dos tempos de repórter, na TV Morena. Um dia, há muito tempo, nos idos anos 80, a Família Espíndola se reuniu para um show conjunto, lá em Campo Grande. Todos os cantores da família, mais o Humberto (artista plástico de primeira grandeza). Eu era iniciante na profissão, mas desde sempre fui um apaixonado por música. Ciro de Oliveira, editor do MSTV, também era apaixonado por música. E apoiado por ele, fiz uma das mais longas reportagens da minha vida, mostrando os detalhes do show.

Foram quase quinze minutos, de um total de vinte reservados ao telejornal. A reportagem ficou linda aos meus olhos e aos olhos dos que, como eu, também amam a música. Mas devo admitir que aquilo foi um absurdo, do ponto de vista do jornalismo de TV. Um lindo absurdo. "Seu"Jorge Zahran, um dos diretores da TV Morena à época também achou que foi demais. Demorou um pouco, mas a Ecilda, à época, diretora de jornalismo, e o Ciro o convenceram de que a minha demissão seria um prejuízo para a TV, para o jornalismo e para a música, afinal. E se comprometeram a conter os meus ímpetos e cortar os meus textos.

Fui salvo da degola. Lançando os olhos no passado, sou capaz de me orgulhar por aquela doce irresponsabilidade.  Os Espíndola, em família, ficaram agradecidos e talvez nunca tenham notícia do tamanho do perrengue que enfrentei por aquela ousadia. Não tenho cópia desse material, mas, do que me lembro do conteúdo, não mudaria uma virgula. Mudaria a veiculação dele. Aquilo valia um especial, não cabia em um telejornal.

Na porta do hotel, Ecilda percebe o meu encantamento com a música e me dá o disco de presente. Caminho em direção ao quarto, feliz e contente. Tenho que escrever pra Tetê Espíndola e falar sobre o filho dela, sobre a música  dele, sobre os velhos tempos. Falar da vida, como música, sempre.


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