quinta-feira, 5 de abril de 2012

Nas asas da Passaredo


Ontem, voltando do Sul, sobrevoei a UNISINOS nas asas da Passaredo. Imediatamente, lembrei de Elis, de Milton, da canção em que eles falavam sobre voar nas assas da Pan Air e o pensamento vagou por outras plagas. Me levou aos tempos da faculdade de jornalismo.

30 anos depois, percebo que o prédio central, que chamávamos de redondo, parece ter sido concluído. No início dos anos 80, quando estudei jornalismo lá, a cidade de São Leopoldo se dividia em três grupos distintos: 23 mil universitários; 25 mil operários da indústria do calçado; e aproximadamente 25 mil descendentes de alemães.

Prédio onde funcionava a antiga sede da UNISINOS
Era um tempo mágico. A sede velha da universidade, no centro de São Leo, funcionava em um prédio antigo, arquitetura clássica, onde ficava o Restaurante Universitário e um viveiro de espécies de plantas raras. Entre aquelas plantas e jardins ajudamos a cuidar da filha da Jupira, nossa amiga de curso de jornalismo. Kamala, por conta disso, era meio filha de todos nós. Quem estivesse de folga, era o responsável de plantão, principalmente quando a Jupira estava em aula. 

Marquinhos Goiano, Chile e Jupira.
Turma da sede velha da Unisinos
Em frente à sede velha, dois lugares eram sagrados. O “Parada Um” e o Primeiro Distrito Policial. O “Parada Um” era o nosso bar preferencial. Bastava atravessar a rua e ele estava lá. Não tinha nada de mais, a não ser as fartas doses de cachaça com canela e intermináveis conversas filosóficas ou não, que me ajudaram a enfrentar o rigor do frio gaúcho. De alguma maneira, foi nesse momento que se consolidou em mim o amor pela poesia e pelo jornalismo.

A delegacia de polícia era onde, invariavelmente, íamos parar depois de algum porre homérico. Havia um camarada chamado Jefferson "Véio" que era freguês da delegacia. Dois ou três goles de cachaça eram suficientes para trazer à tona um revolucionário incontrolável, cujo porre não poupava ninguém.

Do presidente ao general, passando pelos padres e entreguistas, todos eram, devida e sistematicamente, esculhambados por ele. O Jefferson também ficou famoso na faculdade por ser o primeiro vivente com coragem para oferecer, numa das raras conversas sérias que teve com o reitor, chá de cogumelo para combater a depressão. Por muito pouco não foi expulso.

Na sede velha conheci minha primeira paixão gaúcha – Áurea Kern. Ela estava na primeira turma, no primeiro dia de faculdade. E foi uma das primeiras a me chamar de Maranhão Viegas, apelido definitivo – que mais tarde viraria nome profissional, e que me foi inventado pela professora Elvira Coelho.

Áurea Kern 
A história de como ganhei esse apelido já contei aqui no blog. Querendo relembrar, basta clicar neste link. Minha paixão pela Áurea foi infinita enquanto durou, exatamente como nos versos de Vinícius. 

O avião se aproximou de Londrina. A comissária de bordo começou a recolher copos e guardanapos. O avião começou a descer. Hora de fechar o texto. Hora de resguardar a memória.

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