sexta-feira, 18 de maio de 2012

Velhas tardes, belos dias

Opílio Viégas,
meu avô.
Em 1977, meu avô, Opílio Viegas,  me chamou para acompanha-lo em mais uma viagem de ônibus. Eu estava prestes a completar 15 anos. Desde que meu pai fora transferido para o Paraná, em 1970, "seu" Opílio não abria mão daquela viagem anual de retorno a São Luis do Maranhão. E eu, neto mais velho, era sempre escalado para seguir com ele.

Para mim, era uma aventura fantástica. Cruzar o país em quase 80 horas seguidas, ininterruptas, de ônibus, tinha um sabor especial e, creio, foi o que plantou definitivamente em mim um certo espírito "cigano", uma vontade incontida de estar sempre buscando um outro horizonte. Eu esperava ansioso cada nova partida. Mas, naquele 77, a viagem foi marcante.

No dia em que  desembarcamos em São Luis, meu tio Zé, irmão de minha mãe, e minha tia Belinha, mulher dele, questionaram o meu avô sobre a possibilidade de minha permanência por mais tempo em São Luis. Eles queriam que eu ficasse morando lá para iniciar os estudos do que, à época, se chamava Colegial (antigo Ginásio).  Os meus olhos brilharam diante da possibilidade. Fiz um silêncio sepulcral, mas um furor contido me tomou de assalto e pedia que eu gritasse de vontade de ficar.

Meu avô, homem prático, disse não ver problema. Mas condicionava a decisão à autorização de meus pais. Resultado, fiquei. Foi a minha primeira aventura individual. E foi uma época de descobertas juvenis.

Década de 70.
Eu, pouco mais
que um menino.
Meus tios moravam no "Beco do Seminário", atrás da Igreja de Santo Antônio, região central de São Luis. A rua era pequena, um beco mesmo, e todo mundo se conhecia. Lá, fiz os meus primeiros amigos depois da infância. Conheci Maria Tereza, minha primeira namorada. Descobri que a distância que me separava da Madre Deus - bairro onde eu nasci - e dos meus amigos de infância, era nada. E muitas vezes fiz a pé o trajeto entre o Centro da cidade  até lá para reencontrar e conhecer de fato as minhas origens.

Mas havia a novidade do colégio novo, dos amigos novos e... da Discoteca! Em plenos anos 70, o "Disco Club" invadia o mundo e o Brasil, de Norte a Sul. E a ilha de São Luis não estava isenta dessa invasão. Então, havia  bumba-meu-boi, quadrilha de São João, havia a Turma do Quinto, manifestações populares de raízes telúricas, mas aos sábados à tarde, nada me desviava de boas horas de saculejo numa discoteca que ficava no lado Oeste da ilha, bem diante da Ponte de São Francisco. A memória me trai e eu não consigo lembrar agora o nome daquele lugar.


Ponte de São Francisco - São Luis - MA
Lá, acompanhado por Maria Tereza, por Patrícia Weber, por Ebínio e Marcio confirmei que dançar é essencial à vida. Repartíamos um gim/tônica ou uma Cuba-libre, era o máximo que se permitia. E sacodíamos todos, juntos ou separadamente, num baticum interminável por horas e horas... Até as nove da noite.

Donna Summer, rainha das velhas tardes, na discoteca.
Ontem, surpreendido pela notícia da morte de Donna Summer, me lembrei de tudo isso. Donna era a rainha das nossas tardes/noites de discoteca. Sua música, associada aos efeitos das luzes estroboscópicas, era o clímax de toda festa dançante. "I feel Love" era a nossa preferida. Longa, limitada, repetitiva, mas maravilhosa pra dançar. Pelo menos, naquela época.

Hoje, pensando nisso tudo, percorro mentalmente cada uma das ruas da minha cidade. Como numa das viagens de retorno do meu avô a São Luis. Por alguma razão, tenho mais claro agora a intensidade do sentimento que o fazia voltar sempre à nossa ilha.

Velhas tardes, belos dias.



Um comentário:

  1. Quando chego ao trabalho e ligo o computador, coloco lá a rádio uol prá tocar. Particularmente, hoje cedo, vi a notícia da morte de Donna e ouvi um pouco das músicas que embalavam o saculejo da nossa juventude. Acredito, de verdade, que há um pensamento coletivo que nos leva a um lugar comum. A memória instantânea que faz parte de todos nós.

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