sábado, 14 de setembro de 2013

Pé de Jornal


O dia mal amanhece quando o jornaleiro passa aqui por casa. É um sujeito habilidoso, pra dizer o mínimo. Anda de motocicleta, com uma caixa de plástico repleta de jornais dobrados e envelopados, cada um em um saco plástico. 

Quando se aproxima das casas dos assinantes, reduz a velocidade da moto, segura o guidão com uma das mãos e com a outra, busca um jornal ensacado, sem olhar para trás. Ato contínuo, arremessa o jornal por cima do muro ou da grade da casa. A entrega está feita. E ele segue essa rotina matinal por não sei quantas casas, arremessando jornais não sei quantas vezes por dia.  Se jogasse basquete, seria um cestinha. Não erra o alvo nunca. 

Mas, de uns tempos pra cá, o jornal tem falhado. Acordo, corro ao jardim, passo os olhos e... ele não está lá. Pensei nas hipótese possíveis. A primeira foi reclamar com os caras da logística de entrega. Não havia problema detectado. Também não havia uma lógica para as falhas de entrega. Elas não aconteciam porque fosse terça, ou quarta, ou sábado. Simplesmente, aconteciam. Os jornais não estavam chegando direito.

Hoje de manhã, fiz uma descoberta fenomenal. Olhando a mangueira que existe na entrada de casa, percebi que ela cresceu. E cresceu no ponto em que, caprichosamente, o jornaleiro arremessa o jornal. Me aproximei da árvore com olhar cuidadoso, investigativo. Encontrei mangas verdejantes e jornais ensacados.

Eis o "mistério da fé"! Os arremessos (quase automáticos) do jornaleiro, há algum tempo, não enfrentavam o obstáculo da copa da árvore. Jornal arremessado era jornal entregue. Agora, não. Há uma mangueira renitente entre o jardim e o jornaleiro. Que, vez por outra, retém minhas notícias.  Hoje, encontrei um caprichoso "pé de jornal". Cheio de notícias velhas. De jornais não lidos, feito mangas, por amadurecer no pé. 

  

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