quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Frio no polo, quente no coração!

Isabel, minha irmã, e Marcelo, marido dela, estão no extremo norte do planeta, em busca de ver a Aurora Boreal. Eles dizem que estão de férias. E a gente acredita que sim. Mas, no fundo, desconfio que os dois estejam mesmo é em busca de uma boa aventura. 

Há dias (ou noites) eles tentam ver esse fenômeno fantástico. Ontem, eles conseguiram (como dá pra ver ai nas fotos, no post anterior).  Há pouco, a Isa me mandou um relato dessa parte final da aventura. Me diverti com o seu texto e descobri que tenho uma forte concorrente a escritora na família. O texto está uma delícia e a aventura é de encher os olhos ou de esfriar os ossos! Confira ai: 


Marcelo e Isa
A segunda tentativa prometia. A nossa guia Mariana foi super bem recomendada nas resenhas de outros viajantes que fizeram o passeio para Tromso. O dia, porém, estava cinzento além do normal. Já na saída do hotel a neve e o vento começaram a ficar mais fortes. 

Mariana é do tipo que vai atrás da Aurora. Se um lugar não está bom, segue para outro e assim passa a madrugada. É um passeio de aventura. O grupo todo estava em duas vans, na outra, o guia era o George, pelo que entendi, é polonês, e pelo que não entendi confirmei isso. O sotaque "arretado" do inglês quase incompreensível denunciava. No final de cada frase vinha logo um "okay???" Quem entendeu, bem, quem não entendeu "okay!" 

Rumo à estação Finlândia.
Saímos do hotel às 17:30, com a noite já presente. Percorremos uma distância enorme, mais especificamente, atravessamos a fronteira com a Finlândia (jamais imaginei isso!) para achar um buraco nas nuvens e um tempo menos pior . O vento era de matar. Numa das descidas do carro, perguntei a temperatura, Mariana logo respondeu:  - Não tá frio não, é só o vento. 

Então tá, meu frio era psicológico e não me deixava sentir mais os pés. Ah meu Deus, se isso não é frio, então o que será que vem pela frente? Detalhe é que a essa altura já estávamos devidamente aquecidos nas roupas de "caçar a Aurora", confiram nas fotos. Debaixo daquilo tudo, tem sempre alguma parte do corpo que reclama do frio. mas era psicológico. Então, vamos lá. 

Passamos pela fronteira com a Finlândia e continuamos mais alguns quilômetros.  Nada da aurora. Paramos em uma clareira, deu até pra ver as estrelas por uns instantes. Causou-me admiração tamanha competência da Mariana. Achou um céu aberto no meio de tanta neve caindo. Mas durou pouco. Serviu um chocolate quente, esperou um pouco e achou melhor ir voltando.  

Estacionados na neve.
Já se fazia alta madrugada e percebemos que enquanto fugíamos da neve na ida, ela caiu sem dó e nos pegou na volta. Em um ponto da estrada ficou impossível passar. Literalmente ficamos parados na estrada. Pense: Alta madrugada, na Finlândia, dentro de uma van com mais 5 pessoas, esperando pelo trator de limpar neve. Não era eu! Se já não tinha dormido antes, agora então, nem pensar. - Marcelo, estamos atolados! - Não se preocupe, Isabel, estamos na Finlândia, estão acostumados com isso, logo o socorro vai chegar. Okay! Vamos acreditar. 

Os aventureiros na noite da Finlândia. 
A Mariana, segura da situação, providenciou tudo, chamou o socorro, a cada minuto queria saber se alguém estava passando mal. Eu? Tô ótima! Aqui é a Finlândia, o socorro já, já vai chegar! Duas horas depois, chegou o trator, limpou a estrada e...e foi embora. Então vamos também, não é? Não, não é! Eu falei que estávamos parados, não é? Pois é, durante o tempo  que esperamos a neve caiu de verdade, uma camada de meio metro ao nosso redor e a van estava mesmo atolada. Desce todo mundo que puder ajudar, os outros entram na van do George. 

É claro que eu estava no segundo time! Imagine, ficar do lado de fora, com esse vento, esse frio todo, afundando em neve, não tô podendo nem me ajudar...Mas psicologicamente valeu a torcida. Desatolamos e conseguimos voltar. A fronteira com a Finlândia estava fechada. Mais algumas horas dentro da van. Lá vem o George. Abriu a porta e um sorriso largo, e fez uma perguntinha capaz de quebrar o gelo: - Whisky?? 

Casinhas de sonho. 
Demorou mais um bocado até que a fronteira abriu, todos exaustos, uns pela preocupação, me incluo nestes, outros pela situação, o caso dos guias, e outros ainda, porque perderiam o voo para Oslo que seria cedo, caso do casal de Singapura, que tentava manter aquela calma oriental. 

Paisagens de história infantil. 
Árvores de Natal de verdade.
Voltamos passando por lugares bonitos, completamente cobertos pela nevasca, lagos congelados, árvores de Natal de verdade, casinhas bonitinhas, paisagens só antes conhecidas pelos livros de estórias infantis. Fomos brindados com um amanhecer inigualável. Não vimos a aurora nessa noite, mas ela vai ser inesquecível pra mim.

De volta à Noruega.
Antes de terminar o tour, pelo menos uma vez compreendi o que dizia o George, acho que na tentativa de se redimir por tamanha ousadia na aventura conosco. Foi quando paramos num posto de combustível, George abriu a porta da van dizendo:
- Sthkhklajhdkjfdkjflkdmeisnoifsdkjfreehotschokolatenorkafe! Okay???

- Okay!!!

2 comentários:

  1. Que delícia de crônica e as fotos são para desejar um teletransporte. Viagem linda.

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  2. Ei, Maranhão!! A Izabel é uma ótima contadora de história! Eu a-do-rei!!! Que aventura, gente! E que fotos! Conta mais, Bel!

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