sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

O tempo e a escrita

Composição de cena:  Odette de Castro
Foto: Flávio de Castro
Os dias de 2013 se avizinham do fim.
Há uma sensação comum a todos os fins, uma pontuação do tempo.
O fim, visto ao avesso, nada mais é do que um começo.

Lá onde os meus olhos não alcançam, me salva a escrita.
As letras preenchendo o vazio do branco dão sentido ao que sinto.
Passam as horas, os dias, passa o tempo sem que haja perspectiva de volta.
A única certeza é o desconhecido do que está por vir.
O incerto conjugando o verbo virá.

À minha volta, um eito de sensações.
Em meu peito, um fiozinho de melancolia.
É da natureza humana emocionar-se,
mesmo que em silêncio, com a passagem do tempo.

Deixo que as frases percorram o caminho lógico
entre a minha mente e os meus dedos.

Vejo as flores, diante da máquina de escrever de Odette.
As flores miúdas.
O chiaroscuro casual.
A luz filtrada na transparência do vaso.

Tudo ali é equilíbrio
Tudo ali é novidade nova à espera
de ser traduzida pelo barulho das teclas,
pela força das letras no papel branco.

Para que o vazio
não prevaleça sobe a pontinha de
esperança que insiste em me acompanhar.

No horizonte, vejo os primeiros sinais do
ano novo que se avizinha.
Uma passagem do tempo.
Mais uma.

E eu, viajante, me ponho cá,
emocionado e vivo.
A te esperar.  
Voilà, 2014!



terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Papai Noel existe, é um catador de latas

Por Innocêncio Viégas*


Chegou dezembro, e com ele, todas as alegrias de final de ano, quando a esperança em melhores dias se renova.

Papai Noel age no anonimato; na calada da noite. Isso tudo, no imaginário das crianças, mesmo aquelas que sabem que são os pais que lhes dão os presentes. Poucos notam que a figura do Papai Noel é apenas um mote para que o doador não se identifique como tal. Todas as vezes que você deu um presente sem se identificar, fazendo uma pessoa feliz, você foi o Papai Noel vivificado.

Zé Catador vive de catar latinhas, papelão, plástico, ferro-velho e outros inservíveis para muitos. Mora num barraco com a mulher e um guri de uns três anos. Vivem na maior pobreza mas o alimento não falta. O menino só fala em Papai Noel. Nos papéis que o Zé traz para casa, vez por outra o Papai Noel aparece estampado nos anúncios que ele e o Zé não sabem ler. O Zé fica preocupado com os desejos da criança e lamenta não ver em sua casa, pelo menos por um minuto, o Papai Noel tão falado por todos.

Certa noite o Zé fazia o seu serviço, honesto, quando deparou com um grande boneco vestido de Papai Noel, na porta de uma loja de brinquedos. Logo lhe veio à cabeça a figura do seu filhinho. Não perdeu tempo. Tirou o gorro do boneco e o colocou em sua cabeça. Olhou-se no vidro da vitrine e se achou parecido. Sacou o blusão colorido e se vestiu. Ficou um pouco grande. A calça e as botas não eram verdadeiras e sim de papel mas o grande saco, pleno de papéis lhe serviria para levar os presentes. Retirou do boneco o grande saco e o colocou no ombro. Virou Papai Noel. Lindo! Agora eu sou ele, conversou consigo mesmo. Compro os presentes para o Zezinho, uma roupinha para a Mari, um franguinho assado, batatas, refrigerantes e, para mim, uma garrafa de cidra e tá feito o Natal.

O Zé estava sendo filmado, e na outra esquina foi preso pela patrulhinha do bairro. A TV noticiou o caso com estardalhaço e mostrou para o mundo, o pobre Zé. O escrivão fez a ficha criminal do Papai Noel. O Zé contou a sua triste história. Não queria furtar nada, era a única maneira de fazer a alegria do filho e da mulher, e completou o seu depoimento: Doutor, lá no meu barraco, o Papai Noel nunca apareceu.


O Delegado recolheu pessoalmente os pertences do Papai Noel – o gorro, o blusão e o saco –  confirmou o endereço do Zé: um barraco na beira da pista, depois do posto de gasolina, no Km 25 , único barraco.
O Delegado tinha o coração sensível ao bem e mandou soltar o Zé, mandou-o voltar para o seu trabalho. Poucos dias depois, já chegando o Natal, o Zé recolheu na noite anterior, suas latinhas, vendeu o produto do seu trabalho, apurou um dinheirinho e foi comprar os presentes.

Ao chegar em casa, se assustou. O barraco todo enfeitado com balões coloridos e guirlandas. Lá dentro, o menino abraçado com vários brinquedos e a Maricota, de vestido novo e muito sorridente com os alimentos recebidos.
– O que aconteceu aqui Mari? Perguntou.
– Zé – respondeu a Maricota – o Papai Noel esteve aqui, perguntou por você. Deixou tudo isto. Mas ele não era bem um Papai Noel. Tinha o gorro, o blusão colorido e o saco, mas não tinha a calça vermelha e nem as botas. Perguntei o nome dele e ele disse:  Papai Noel, e disse mais: diga para o Zé, que Papai Noel existe, e vez por outra, é até o Delegado. Zé ele saiu rindo e cantando o seu Hô! Hô! Hô! E dizendo: Feliz Natal! Feliz Natal! Feliz Natal!

O Zé não havia contado nada para a sua Maricota. Simplesmente chorou, olhou para o céu e disse:
– É ele mesmo Mari! Papai Noel é assim.

Pode ser qualquer pessoa, até mesmo o Delegado ou um simples catador de latas, aquele que foi preso.

Hô! Hô! Hô! Feliz Natal para todo mundo.

* Innocêncio Viegas é teólogo, membro da Ass. Nac. dos Escritores, membro da Academia de Letras de Brasília, da Academia Internacional Maçônica de Letras, fundador da Confraria dos Amigos da Boa Mesa e meu pai. 
Email para contato: inocencio.viegas@gmail.com

sábado, 21 de dezembro de 2013

Andar Comigo

Porque o sábado pede novos caminhos! Julieta Venegas - Andar Conmigo.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

A turma

*Manoel de Barros

Bernardo, de Manoel.
A gente foi criado no ermo igual ser pedra.

Nossa voz tinha nível de fonte.

A gente passeava nas origens.

Bernardo conversava pedrinhas 
com as rãs de tarde.

Sebastião fez um martelo de pregar água 
na parede.

A gente não sabia botar comportamento
 nas palavras.


Para nós obedecer a desordem das falas

Infantis gerava mais poesia do que obedecer
 as regras gramaticais.

Bernardo fez um ferro de engomar gelo.


Eu gostava das águas indormidas.

A gente queria encontrar a raiz das 
palavras.

Vimos um afeto de aves no olhar de 
Bernardo.


Logo vimos um sapo com olhar de árvore!

Ele queria mudar a Natureza?


Vimos depois um lagarto de olhos garços
beijar as pernas da Manhã!

Ele queria mudar a Natureza?


Mas o que nós queríamos

é que a nossa 
palavra poemasse.”

Manoel, de Bernardo. 

*O mais recente poema de Manoel de Barros, escrito neste ano da graça de 2013.

Como se fosse sábado


Acordei
com uma fresta de sol
se espremendo entre nuvens de chuva.

Era quinta-feira.
Mas o dia me convidava à vida
através da janela de meu quarto
com se nascesse numa manhã de sábado

Recado para Manoel

Manoel de Barros.
Foto: Alexis Prappas
Quando eu nasci, minha avó me queria Bernardo.
Meu Bernardo não vingou, a não ser no querer de minha avó.
Virei Inorbel, depois, Nuca, depois Maranhão. Por fim, transformei todos eles
eu um só, justo o que sou hoje.

Bem mais tarde, conheci Manoel de Barros e descobri que o seu alterego se chamava Bernardo. Um dia, Manoel me apresentou o seu Bernardo e eu, emocionado, enxerguei a imagem de um menino correndo solto, na beira de um rio que lambia o fim da tarde. 

Nesse dia, tive a impressão de ver minha avó sorrir, de braços dados com o acaso. 
Foi quando a inutilidade bela do mundo de Manuel invadiu minha alma.

Pra sempre. 

(Recado escrito para Manoel de Barros, a pedido de Rodrigo Teixeira e publicado no Jornal O Estado MS, edição desta quinta-feira, 19.12.2013, dia em que o poeta completa 97 anos de poesia.)

Dia de Manoel


Hoje é dia de Manoel. Dia de Bernardo, de cobra de vidro, de por-do-sol cheiroso e de todas as outras coisas que a imaginação do poeta cria. Manoel de Barros faz 97 anos. E parece pouco pra tanta delicadeza.

Desde ontem o poeta vem sendo lembrado pelos seus apreciadores. Ontem, acordei pensando nele. Acordei não, não dormi. Ontem, a insônia me invadiu a noite. E quando eu vi que não havia jeito de vencê-la, passei a pensar em coisas boas. E Manoel de Barros, e a sua poesia, estavam entre elas.

No correr do dia, liguei pro Bosco Martins, jornalista e bom amigo dos tempos de Campo Grande. Falamos sobre o poeta e sua vida. Falamos sobre a fragilidade da vida de passarinho que ele anda levando. Falamos sobre a discrição da vida dele e sobre o que ele e sua poesia fazem com a nossa.


Manoel de Barros, Bosco Martins.
No colo do Bosco, o livro que Manoel me mandou de presente. 
Bosco me mandou um bocado de arquivos de texto que vou destrinchar ao longo dos próximos dias.  Me mandou as fotos mais recentes feitas com o poeta. Uma delas, inclusive, com o livro que ele me deu de presente, depois de autografá-lo.

Mais tarde um pouco, recebo um chamado de Rodrigo Teixeira, outro jornalista, outro grande amigo, editor do jornal O Estado MS, me pedindo um recado para Manoel. Foi como se eu tivesse recebido um presente dos deuses. Mandar um recado pra Manoel, dizendo do carinho que sinto por ele, era de fato um presente.

O recado saiu num batidão só. Mandei. E está publicado na edição de hoje, do jornal. O recado é pro Manoel. O presente é pra mim. Para acessar a página do jornal, clique aqui.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

O cinza da manhã


A manhã é cinza
como cinza são as manhãs de dezembro em Brasília.

Amanhã é aniversário do poeta. Manoel faz 97.
E eu já sinto saudades da figura de passarinho dele
enchendo de natureza poética o improvável.

Amanhã são dezenove.
Dezenove dias.
De dezembro.
E a chuva que não cessa.

Ainda assim, a gente se transfigura.
As luzes parecem mais amarelas.
E o jardim recebe penteado novo.

Sinal de Natal no ar.
A casa vai estar cheia em instantes.
É hora de recomeçar.

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Os rios começam a dormir

Manhã de segunda sob o prisma de Manoel de Barros.


Rios começam a dormir, pela orla. 
Um dom de entardecer percorre as águas.
Nas entranhas dessas lagoas
os sapos tocam violas
a quinze metros do arco-iris 
o sol é cheiroso
A ciência ainda não pode 
provar o contrário.

Manoel e Márcio
Manhã de segunda sob o prisma de Manoel de Barros e com os timbres de Márcio de Camillo, no CD Crianceiras.

domingo, 15 de dezembro de 2013

Carta de Mariana

Mariana, minha filha, me escreveu. 
Foi uma carta quente, como quente é a Mariana. 

Falando de música, de admiração, falando de amor. 
Carta quente, do jeitinho dela. 

Com todo respeito, um puta texto! 
Um baita orgulho! 




Bom dia, papai.

Acho que você não ficou sabendo, mas quando deu 00:01 de sexta-feira 13 a Beyoncé divulgou o novo álbum dela. 5º da carreira solo. 14 faixa e 17 clipes para baixar no iTunes. 

Sem fazer alarde. Sem anunciar durante um mês. Sem divulgar teaser. Nada! Simplesmente foi lá e disponibilizou o disco.


Não sou tão tecnológica. Não sei baixar música. Nem no iTunes. Só vi os comentários na internet. Também não estou desesperada pra ouvir e ter uma opinião sobre o disco antes de todo mundo. Quando as músicas começarem a rolar no rádio eu vou ouvir.


Mas eu acho a Bey sensacional! Sério! Ela é uma artista fantástica. Canta divinamente, tem uma voz incrível. Não faz playback nos shows. Dança pra caralho. As coreografias dos clipes dela são sempre as mais copiadas e trazem elementos que viram tendência no cenário da dança. Ela cuida pessoalmente de cada detalhe dos shows. Figurino, iluminação, setlist, qualidade do som... Ela é realmente uma artista completa. Ela se preocupa com o melhor que ela pode dar pro público e é extremamente profissional. 


Esse ano, em uma apresentação, o cabelo dela prendeu num ventilador que ficava no chão do palco. Ela não se desesperou. Ela não parou de cantar. Ela não desafinou. Sentou na escada, continuou cantando com a cabeça presa, enquanto a equipe técnica desprendia o cabelo dela. Depois, ela mesma postou o vídeo no instagram oficial dela e fez uma paródia da música que estava cantando, contando o que aconteceu. Fera!!!



Em setembro ela veio para o Brasil. Alugou uma casa em Trancoso e ficou lá com a família (o marido Ja.Z e a filha Blue Ivy). Ela ia para as cidades onde tinha show e voltava pra lá. Foi muito bem recebida e mereceu todos os cuidados da Ivete Sangalo


Beyoncé ficou mais encantada pelo Brasil. Se preocupou com os fãs e com a nossa cultura. Na apresentação de Fortaleza (a primeira) ela sambou, em BH ela dançou funk e no Rock In Rio ela arrasou dançando o passinho. (Aaaah, lelek lek lek!)


Aqui em Brasília o show começou com uma hora e meia de atraso, debaixo dum pé d'água. Ela seguiu o show da melhor maneira que era possível fazer nessas condições. Não ficou na parte coberta do palco e ainda disse pro público: "Se vocês estão na chuva, eu também vou ficar na chuva com vocês". 


Ela ama tanto o Brasil, que dentre os 17 clipes lançados ontem, ela lançou o da música "Blue" que ela fez pra filha, que foi todos gravado aqui. A música é linda! Puro amor. Chorei todas as 5 vezes que vi o clipe. As imagens são lindas! Mostra o Brasil de uma maneira não piegas e clichê. É tudo maravilhoso! 

Mariana, em seu momento Bey

Assiste aí!


Te amo!

Beijos!