sábado, 12 de julho de 2014

Short Cuts - Diários da Copa 8

"É de patos e piruns"
Saio de casa pro trabalho.
Do caminho, ligo pra Isabel, minha mãe.
Ela atende rindo, numa felicidade dessas que fazem a gente rir à toa, também.

Quer falar um pouco com teu pai? Quero.
Ele também ri. Não sei exatamente por quê, mas os dois estavam especialmente felizes nessa manhã de sábado.

Nuca - eles me chamam assim desde criança - diz o meu pai ao telefone, eu tava aqui pensando sobre o 7 X 0 da Alemanha no Brasil. E na educação dos alemães, que combinaram não tripudiar sobre os brasileiros. Me lembrei de uma história da minha adolescência. Lá na Madre Deus tinha um time de futebol, o Maranhãozinho.

Um dia, fomos jogar na Maioba (Maioba é um bairro de estivadores, em São Luis. Com fama de pouca paciência e de muita violência). Fomos disputar a final de um campeonato: maranhãozinho contra Maioba esporte Clube. Fomos em um caminhão, eu devia ter uns quatroze pra quinze anos. Lembro que o juiz era um guarda civil cujo apelido era "49", nosso amigo.


Com receio de que uma vitória terminasse em confusão, combinamos não comemorar gols, ainda que eles acontecessem. Foi mais ou menos como os alemães fizeram conosco, no intervalo do jogo com o Brasil. Assim foi.

Jogo disputado, pau a pau. Termina o primeiro tempo. Um a zero para a Maioba. Até ai, tudo bem. No início do segundo tempo, o Maranhãozinho empata. Sem um sinal de alegria. Tudo quieto e tenso. A poucos minutos do jogo acabar, o centro-avante do nosso time, o "piloto", fez Dois a um no placar. A vontade de vibrar era imensa, mas quem olhava de fora enxergava a alegria de um velório.

"49" apita o fim da partida. Quietos e calmos, embarcamos no caminhão para seguir viagem. De repente, todos embarcados, João Jibóia, um cara moleque que só, metido a poeta e cantador de toada de bumba meu boi, começa a cantar em voz alta um deboche que era a cara dele: "É de patos e pirum, é de dois a um". Foi a senha pra começar a correria. Ainda bem que o caminhão já estava funcionando e deu tempo de escapar da turma da Maioba.

Meu pai quase não se continha, contando a história e rindo, ao mesmo tempo. Compreendi como se faz uma manhã de sábado feliz.

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