segunda-feira, 10 de novembro de 2014

A cajuina, a poesia, o muro

Ontem, foi dia.
Ô, internet e essas notícias à queima-roupa!

Renata Sanches me lembrou que se Torquato Neto estivesse vivo, completaria 70 anos ontem. Torquato é um piauiense da gema. Um gênio da palavra que resolveu ir cedo embora. Antes de desistir de viver, deixou belas coisas escritas. Depois que foi, provocou Caetano Veloso a escrever uma das mais lindas de suas canções - Cajuina.

A música, bem lembra Renata, é o retrato eternizado de um encontro entre o pai de Torquato e Caetano, tempos depois da morte do filho. Um olhar entrecuzado, uma flor, um gole de cajuina, umas lágrimas e a poesia estava pronta.

Torquato foi, sem nunca ter saído daqui.


Bosco Martins republica uma notícia da Revista Época, edição desta semana. Meu poeta maior, Manoel de Barros, está passarinhando. Logo ele, que tão bem traduziu a natureza, coisificando a beleza e embelezando tudo o que escapasse do belo, pela ponta de seus lápis. Logo ele, que a gente imaginava que não era um ser finito. Logo ele, que tanta alegria me traz em seus escritos de menino, com seu/meu alter-ego Bernardo.

A imagem eu copiei da página da Dora Prado, um dia destes.
Nem fazia ideia pra o quê. Hoje, ela se justifica aqui.  

A notícia é dura e poética ao mesmo tempo. Manoel está cansado de viver. Não quer ficar assim, preso à uma cama, olhando o tempo passar sem poder segurar o rabo do vento. Quer seguir viagem de menino, no curso da cobra de vidro que passa no fundo da fazenda onde ele se criou. Perto das suas belas inutilidades.

Foto de Roberto Higa e arte da Revista Época
Manoel, em parte, viu a vida perder sentido depois da inversão temporal que lhe tirou de vista os dois filhos homens. É o que diz o Bosco, na revista. Que a vida lhe reserve a mais bela poesia de passagem, Manoel.


Mariza me faz lembrar dos 25 anos da queda do Muro de Berlim. Me manda um link que é uma propaganda do Google, mas que vale a pena ser visto. E enquanto aquele minuto e meio vai passando diante dos meus olhos, tento compreender por quê o mundo insiste em ser dividido.

Dividem-se as terras, a fé, as gentes, o sofrimento, a dor… A cada nova divisão o mundo fica menor. E tanto, que quase vai não nos cabendo dentro dele. Acho que por isso é tão importante celebrar a passagem de um tempo em que, ao invés de dividir, nos unimos. Um muro a menos. Horizontes a mais.    Vida que segue, na velocidade das notícias à queima-roupa.




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