sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Correspondência de avô

Mariana e seu avô Viegas
Os hospitais são frios e tristes por natureza. Ninguém tira férias em hospital. É um dos lugares onde a gente vai por necessidade, desejando que a estada seja a mais curta possível.

Mariana, minha filha, teve que enfrentar essa dita, nesse começo de ano. Uma cirurgia não programada. Felizmente, tudo segue bem e ela já está em casa, longe da frieza hospitalar e perto do carinho de todos nós.

Mas a estada de Mariana no hospital foi leve (na medida que isso seja possível). Graças à contribuição de todos: da Mara, do Gabriel, da Clarice, da avó Isabel, do avô Viegas, dos parentes e amigos queridos que ligaram, mandaram mensagens ou roubaram alguns minutos do dia para dedicar-lhe um carinho pessoal.

Ontem, quando já estava em casa, sorriso largo, Mariana me contou sobre o presente que recebeu, ainda no hospital. Um pacote lacrado. Bem lacrado. Um mistério que lhe foi enviado pelo seu avô, por meio da sua avó, portadora oficial da encomenda.

Isabel, a portadora obediente da "encomenda". 
Com recomendações explícitas e rigorosas: "Só entregue isso à minha neta. Ninguém está autorizado a abrir, senão ela. E saia de perto quando ela estiver abrindo". Isabel, olhou com desconfiança para aquele pacote misterioso. Mas cumpriu à risca o combinado.

Mariana começou a rir antes mesmo de abrir o pacote, só de ouvir as recomendações transmitidas em detalhes pela sua avó.

Pacote entregue, começou a abri-lo. Dentro do pacote lacrado havia um envelope pardo com a seguinte instrução, escrita à mão na caligrafia precisa e preciosa do avô:
O envelope e a instrução

"Minha querida neta, Mariana. 
Este livro é para ser lido longe das vistas de outra pessoa, médico, 
enfermeira  e, quando o acompanhante estiver dormindo. 
Se chegar alguém durante a leitura, esconda-o.
Boa leitura!
Abraços e muita saudade.
Teu avô,
Viegas. " 

Mariana abriu o pacote com cuidado exigido e curiosidade transbordante. Lá de dentro, do mais profundo mistério, saltou um divertido e inusitado "Almanaque do Tio Patinhas".

O almanaque
Mariana riu um riso que não cabe em hospitais.  Aquela correspondência do avô, aquele enigma deliciosamente infantil... por um instante transformaram a frieza do lugar em ambiente de sonho. A dor, assim, vai dando lugar à alegria. E a vida fica mais leve.

O riso, a magia, a vida mais leve a cada dia. 

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