sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Da fonte


Da minha janela, não vejo o mar.
Mas sinto a brisa.

Da minha janela, não vejo o mar.
Mas tenho o coqueiro a embalar manhãs e tardes
e a me proteger o do tempo. Como se fosse sempre
dia de domingo.

De quebra, da minha janela tenho o fruto, da fonte.
Água de côco, direto do pé.
Ao alcance das mãos. E da imaginação.

Da minha janela imagino o mar.
E ele tem sabor de água fresca de côco.

Porque hoje é sexta.

terça-feira, 13 de outubro de 2015

Mochileira


Geraldo Roca é um grande amigo e um dos mais importantes letristras e músicos do Mato Grosso do Sul. Ele vem da geração primeira, dos novos valores da terra. É fruto de um tempo, de uma lufada de vento, que trouxe à tona  Geraldo Espíndola, Tetê Espíndola, Almir Sater, Paulinho Simões, Guilherme Rondon e tantos outros.

Hoje, acordei com essa música. Procurei e encontrei um vídeo, de um show que assisti ao vivo, ainda lá em Campo Grande. Pra matar a saudade e pra celebrar a vida. Mochileira. A original. Com Geraldo Roca.

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

O Deus Mu dança



Na quarta, enquanto eu "mudava" flagrei esses pássaros "cantando".
A quarta-feira, 30.09, seria intensa. 
O último dia do mês era também o meu último dia no apartamento do Bairro Noroeste. Estava de muda para o Bairro Sudoeste. Meu movimento tem a ver com as exigências do novo tempo. Tempo de baixos rendimentos, tempos de cortes nos gastos, tempo de ajustar a vida para o tamanho que caiba no bolso.

Como toda mudança, aquela também tinha lá seus registros. A gente se acostuma fácil com os ambientes. Principalmente, aqueles que se tornam a nossa morada. Me acostumei às ruas do meu bairro, à padaria, ao fluxo do trânsito, ao Parque Burle Marx - ainda que, inacabado. 

Fui me acostumando à poeira e à chuva de um lugar que não estava completado. Um ano de morada foi tempo suficiente para perceber a lindeza do horizonte e o bem que ele me fazia, todos os dias, ao abrir a janela.

Naquela quarta, sai da cama pensando nos passos necessários. Para ir ao banheiro, para chegar à cozinha, para alcançar o café, para ligar o rádio. Tudo, tudinho, decorado mentalmente. Minha casa me servia como uma velha e boa calça jeans, daquelas por quem a gente se apaixona fácil. Vou sentir saudades, pensei.

Mas, a mesma nostalgia que me invade pela partida cede espaço à novidade do que é inédito, do desconhecido. Pelo desafio e pela surpresa do que está por vir.
Em meio a esse caldeirão de pensamentos e lógicas, recebo uma mensagem por  Whatsapp, do Mauro Di Deus. 

O "zap" do Maurinho
Em resumo, ele me dizia que foi à banca de jornais da Quadra 308 Sul e se lembrou de mim. É que o dono da banca, o Márcio, o recebeu com um impresso em que comunicava, também, uma mudança.

A banca, que ele tocava havia 20 anos, estava mudando de mãos. E ele, além de despedir-se dos amigos que fez (mais do que clientes), aproveitava o comunicado para apresentar a nova proprietária: ninguém menos que Conceição Freitas, a jornalista de texto limpo e brilhante, que preencheu as páginas do Correio Braziliense por muitos anos, com preciosidades, que só quem entende da alma de Brasília pode produzir.

Mauro lembrou do texto que escrevi no dia em que eu soube da notícia de que Conceição deixara o Correio. Ele fotografou o impresso que recebeu e me mandou, como prova de que o que relatava era a mais pura verdade. Como se isto fosse preciso. As informações vindas do Mauro são precisas, nunca alcançaram a raia da dúvida.


Por um instante, parei. Pensei comigo: a mudança não é só minha. Pensei na conjugação daquele verbo transitivo direto, mudar.

Eu mudo,
tu mudas,
ela muda,
nós mudamos
e um novo mundo nos absorve em mudança.

Conceição Freitas, na redação
Hoje, dia em que me sinto definitivamente instalado em minha nova morada, vizinho do Parque Sucupira, meu novo local de corridas, é também o dia em que Conceição Freitas, literalmente, “bota banca”.

Pois, então, está decidido: antes que o dia termine, vou dar-lhe um abraço e desejar que o horizonte dela seja tão promissor quando a alegria que sinto agora.

Fui levar o meu abraço à Conceição. Quis o destino que
eu encontrasse pro lá o Mauro Di Deus e o Márcio
De jornalista a jornaleira, dona do seu nariz e do seu próprio negócio. 
Sorte ai, Conceição.
Sorte pra todos nós!

Porque, como diz o velho e bom Raul, é preferível ser essa metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo!   


PS. Conceição vai ser mais do que vendedora de jornais. Na conversa de fim de dia que tivemos, ela me conta que a banca vai seguir vendendo jornais. E vai também se tornar um ponto de referência para todo mundo que quiser conhecer melhor Brasília e as suas histórias.

domingo, 4 de outubro de 2015

O aniversário e o time do coração

Viegão em dia de festa. 

Aniversário do Viegão.
Isabel não para.
Os filhos, os netos, o genro, as noras, os amigos queridos, os poetas, os que não faltam nunca. Tanto, que minha mãe considera Bia, sua melhora amiga, também a sua irmã. E elas crêem tanto nessa irmandade que até se parecem fisicamente. Na alma, então…

O bocão de Mariana, em primeiro plano. Isabel, depois,
Bia, a irmã de alma, e Heronisa.
Estavam lá. Todos.
A casa numa efervescência só.

E livros. Muitos livros.
Viegas gosta de livros. Ganhou livros.

Com Zezinho, à esquerda, e o poeta Fagundes, à direita. 

Cartas da Humanidade - de Marcio Borges. Uma vida entre Livros - de José Mindlin. A Imperatriz de Ferro - de Jung Chang.

Leitura garantida pelas próximas semanas (ele prometia começar ontem mesmo, depois da farra. Não creio. Mas não descreio).

Enquanto conversávamos o tempo passou. Já era noite quando a turma foi embora. Juntamos a louça para lavar e aliviar o cansaço da mãe. Do outro lado do balcão, observando a lavação, Viegas fez uma reclamação - Aniversário sem vinho!

Calma, homem. Nem demora e a gente toma um juntos - eu disse. Abra ai uma cerveja, deixe de coisa, e vamos falando. Nas falas, a lembrança do passado veio pelo resultado do futebol. O Sampaio Correia, time que lidera o campeonato maranhense e disputa a segunda divisão do Brasileiro, empatou com o Botafogo. tem chances de subir para a primeira divisão.

Bastou esse gatilho para a memória do Viegas disparar. O Maranhão já teve bons times, diz ele. E segue falando. Eu sou "motense", torcedor do Moto Clube de São Luis. Um time formado por um grupo de motociclistas que se reunia para andar de moto e jogar futebol. Viraram profissionais. O escudo era uma roda de moto com asas. Teve um belo time. Chegou a ser chamado de "Papão do Norte" e até enfiou um 5 X 0 no Flamengo, em pleno Maracanã.

A memória segue lúcida e falante. Tem também o Sampaio Correia, Sabe por que esse nome? Não, pai, não sei. Era o nome de um Hidroavião que "amerissou" (termo usado para o pouso de aeronaves aquáticas) em São Luis, em dezembro de 1922 e ficou muito famoso por isso.

As cores do Sampaio são o verde, o amarelo e o vermelho - iguais às cores da Bolívia. Por isso, lembra meu pai, os torcedores do Sampaio são chamados popularmente de "bolivianos".

Entre um gole e outro de cerveja, Viegas me lembra algo que eu mesmo já havia apagado da memória: Um outro time, menor, menos famoso, mais capaz de me causar uma enorme emoção. O time formado por estivadores do porto de São Luis. E qual o nome do time? Vitória do Mar.

Que beleza de nome. Poesia em estado puro. Se eu não tivesse nascido motense, por força da predileção do meu pai, eu hoje seria torcedor do Vitória do Mar. Menos pelo futebol. E muito mais pela poesia do nome.

O time campeão de 1952, Vitória do Mar.
O camarada que está marcado na foto é Misael.
E eu o conheci, em minha infância, enquanto morei na Madre Deus
Pesquiso na internet e vejo duas coisas sobre esse time. Primeiro, ele foi campeão invicto do campeonato maranhense, de 1952. Pra nunca mais ganhar nenhum título. Segundo, a sede do Vitória do Mar fica no "Paço do Lumiar". Pronto. Nem precisa dizer mais nada. Sou motense. Mas meu time de coração, desde ontem, aniversário do meu pai, é o Vitória do Mar.